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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Arquitecto chinês vive numa casa-ovo - por ele construída

______________15 de Dezembro, 2010

Tem piada. Ainda não nos lembrámos disto. Arquitectos de Portugal, toca a construir as nossas casas no meio da cidade.

"Sem dinheiro para suportar uma renda, o recém-licenciado Dai Haifei desenhou uma casa em forma de ovo e instalou-a numa rua de Pequim.

Veja a fotogaleria na secção multimédia do SOL

Dai Haifei, de 24 anos, é um jovem que acabou a sua licenciatura em arquitectura recentemente.

Com dificuldades para arrendar uma casa em Pequim, o jovem arquitecto decidiu construir uma casa-ovo e viver sem custos nas ruas daquela cidade.

A casa é alimentada a energia solar e feita de bambu, madeira e sementes de erva, tendo custado aproximadamente 750 euros.
O projecto iniciado por Dai Haifei ainda demorou umas semanas, mas no dia 1 de Dezembro as autoridades de Pequim anunciaram que a casa-ovo vai ser retirada por ter sido uma «construção não autorizada».
SOL
Tags: Artes, Arquitectura, Habitação"

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"A arquitectura combina arte e técnica, criatividade e ciência, sonho e números, utopia e realidade"

Engraçado hoje ler este artigo sobre Arquitectura e os Arquitectos. Ontem dizia eu para a minha Mãe: - Nós somos um incompreendidos. Ainda pensam que as ideias nos saem da cabeça e que não temos que uma componente teórica como base. (...) e continuava eu nas minhas lamurias de Arquitecta - Ser humano incompreeendido pela sociedade.

O que é certo é que todos querem ser Arquitectos (mesmo sem o serem), seja de Interiores, ou Paisagistas, todos têm uma opinião. Loucos ou não, Utópicos ou não, Mais Lunáticos ou menos... Gostei de ler este artigo do jornal sol e por isso aquí o partilho... 


"A arquitectura combina arte e técnica, criatividade e ciência, sonho e números, utopia e realidade.

Terminei há pouco umas pequenas obras numa moradia no Algarve, adquirida em circunstâncias heróicas no Verão de 1978. Como o dinheiro não abundava, comprei-a juntamente com os outros membros da família da minha mulher (os pais dela, os quatro irmãos e respectivos cônjuges). Passámos lá férias históricas, com miúdos a dormir por todos os cantos da casa. Mas na vida tudo muda. A pouco e pouco alguns foram vendendo as suas partes - até só ficarmos dois: eu e o meu cunhado Rui Silva, que conheço desde os 10 anos, pois fomos da mesma turma no Liceu D. João de Castro, do primeiro ao sétimo anos.
Ao contrário da maior parte das pessoas, gosto imenso de obras. É magnífica a sensação de ver surgir, em pedra e cal, aquilo que começou por surgir dentro da nossa cabeça e depois se registou no papel. É isto que torna fascinante a profissão de arquitecto. É talvez a profissão mais bonita que existe - e a mais completa.
Para começar, junta duas coisas que em geral andam separadas e frequentemente estão em conflito: a arte e a técnica. Esta associação de arte e técnica tornava-se patente para nós logo no início do curso de Arquitectura: nos dois primeiros anos, umas aulas tinham lugar na velha Escola de Belas-Artes de Lisboa, ao Chiado, e outras na Faculdade de Ciências, na Rua da Escola Politécnica, ao Rato. Logo aí ficava clara a duplicidade da profissão.
A arquitectura é uma arte - porque é criação, porque é uma estética dos espaços e das formas; mas também é uma técnica - porque um edifício é uma entidade tecnicamente complexa, desde a estrutura que o suporta a todas as instalações que integra: electricidade, água, esgotos, climatização, redes telefónicas e de TV, etc.

E tudo tem de se conjugar e funcionar bem.
Não basta, na verdade, conceber um edifício belo, proporcionado, que se integre bem na paisagem urbana ou rural; é preciso que esse edifício funcione a vários níveis.
Para começar, tem de ser tecnicamente viável e seguro. Depois tem de proporcionar conforto a quem o usa. Só pode dizer-se que um edifício é bom quando é agradável viver nele ou trabalhar nele. E para isso contribui muita coisa de que as pessoas nem sequer se apercebem: a proporção dos espaços e respectivos materiais, as relações das divisões entre si, as zonas em que os espaços se subdividem, as transições interior-exterior. Tudo isto é importante para fazer o utilizador feliz (ou infeliz).
Quantas vezes gostamos de estar num sítio sem percebermos bem porquê - ou, pelo contrário, nos sentimos desambientados, desconfortáveis sem sabermos as razões? Mas um arquitecto tem de saber porquê e ser capaz de criar sítios agradáveis.
Diz-se frequentemente que o curso de Filosofia é aquele que melhor prepara as pessoas para pensar. Discordo. A Filosofia favorece e disciplina o raciocínio especulativo. Mas a Arquitectura estabelece a ponte entre a criação e a realidade. Um edifício não existe antes de estar construído. Uma bela ideia em Arquitectura não vale por si: só vale se puder ser concretizada - e se, depois de concretizada, funcionar correctamente do ponto vista técnico, artístico, psicológico e de utilização.
Na Arquitectura as ideias têm de ser testadas na vida quotidiana.
Combinando arte e técnica, criatividade e ciência, sonho e números, utopia e realidade, a arquitectura é uma actividade sui generis.
Ao executar uma obra, um arquitecto tem de levar em conta mil coisas. Cada traço que faz no papel tem implicações em todo o conjunto. Uma alteração na medida de uma janela pode determinar mexidas em todo o edifício.
Porque um projecto bem feito deve respeitar uma regra de ouro: a coerência. O percurso de um projecto - desde a concepção geral da obra e sua integração no meio até a pormenores como o desenho de uma porta ou a escolha de um puxador - é um exercício de coerência. A altura de um rodapé tem de ser coerente com a altura da sanca, e a altura desta não é independente da largura dos aros das portas.
O arquitecto vai criando, concebendo, mas sempre numa linha de respeito por uma ideia - de modo a que o resultado final seja esteticamente consistente e tecnicamente inatacável. Quando é o arquitecto a desenhar também o mobiliário, tem de o fazer de maneira a que se integre perfeitamente no espaço que concebeu, como se aqueles móveis sempre tivessem ali estado.
Por esta necessidade de coerência e de articulação de componentes muito diversas, a profissão de arquitecto é aquela que, a meu ver, exige mais disciplina mental.
Um edifício é um mundo em si próprio - e ao criá-lo o arquitecto aproxima-se de Deus.
Nenhuma outra profissão como a arquitectura exige um domínio tão completo e simultâneo de tantas variáveis - e a sua integração lógica.
Um edifício bem projectado dá gosto ver: um edifício onde nos apeteça entrar, onde nos sintamos bem, confortáveis e à vontade, que nos proporcione recantos tranquilos, que tenha espaços de transição agradáveis entre o interior e o exterior nos quais possamos gozar simultaneamente da protecção do edifício mas já das delícias do espaço livre.
No interior do edifício as relações entre as divisões devem ser lógicas, o espaço deve fluir sem solavancos nem inflexões bruscas. Não devemos precisar de andar à procura do interruptor porque ele está no sítio óbvio, tal como a tomada para ligar o candeeiro ou o carregador do telemóvel.
Num edifício bem projectado as escadas sobem-se sem grande esforço, porque os degraus têm as medidas certas. A luz é boa, sem ser de mais nem de menos, quer a natural quer a eléctrica. As cores não nos agridem mas também não resultam demasiado esquálidas, como as de um hospital. O som não é desagradável, porque existem superfícies absorventes (notemos, por exemplo, que falar ao telefone numa casa de banho é incómodo, pois produz um irritante eco).
Os materiais devem ser bem escolhidos, polidos ou baços, quentes ou frios, consoante os usos e as situações. E as relações entre eles têm de ser muito bem controladas.

Um edifício é um gigantesco puzzle. Mas um puzzle a quatro dimensões - porque tem comprimento, largura e altura, como uma estátua, mas tem mais uma dimensão que é o espaço interior.
Uma estátua é para admirar por fora; um edifício é para admirar a partir de fora mas também observar por dentro - e permitir que lá se viva agradavelmente.
É esta a grande diferença. A arte, em geral, frui-se; a arquitectura experimenta-se, vive-se.
É isso que dá à arquitectura uma dimensão incomparável - e que torna ao mesmo tempo difícil e fascinante a profissão de arquitecto".
Tags: Opinião, Viver para contar, José António Saraiva, Política a Sério