Existem
certos lugares que por razões circunstanciais acabam por protagonizar
acontecimentos de vária índole, nomeadamente no campo das artes, para as quais
se podem tentar encontrar justificações sem que no entanto estas forneçam uma
resposta plenamente abrangente. E isto porque em dados momentos essas razões
tomam a forma de imponderáveis que não se conseguem identificar claramente, mas
que no fundo acabam por potenciar o que aí aconteceu, como se de imanências do
lugar se tratasse.
De facto, o
Convento de Nossa Senhora dos Remédios dos Carmelitas Descalços, hoje também
conhecido por Convento dos Marianos, é um desses lugares. Ao longo dos seus
quatro séculos de existência – o primeiro templo é do início do Sec. XVII
(1613) – foi palco de uma notável sequência de acontecimentos históricos, não
só pela sua fundação ser devida a Stª Teresa d´Ávila e pela renúncia dos padres
Carmelitas que aí foram tiveram lugar, até à aquisição pela Pulvertaft & Co
como forma de salvaguardar os bens da Igreja Lusitana.
Foi já no
séc. XX, que parte das suas instalações, entretanto remodeladas, vieram a
acomodar ateliers de pintores, escultores e arquitectos, onde uma plêiade de
artistas exerceu, e em alguns casos ainda exerce a sua actividade. E apesar de
aí não se cultivar um ambiente de tertúlia artística, a verdade é que acabava
por perpassar por todos que no local trabalhavam, o conhecimento daquilo que os
outros faziam e das opções que cada um seguia no campo artístico e cultural,
criando desta maneira um sentimento comum, que no mínimo tomava a forma de uma
certa cumplicidade. Foi assim que vários percursos individuais foram
acontecendo e assumindo a seu tempo o protagonismo que lhes era devido.
Por ter
participado nessa vivência desde o tempo dos bancos da Escola Superior de Belas
Artes (ESBAL) e ter tido a oportunidade de ser um observador privilegiado
dessas trajectórias artísticas e da relevância do seu contributo no domínio das
artes plásticas em Portugal, pareceu-me que seria importante tentar reunir os
seus autores numa sequencia de mostras e partilhar assim com o público, e em
particular com o da academia Universidade Lusíada, este microcosmo cultural que
o Convento dos Marianos foi no passado sec, XX – projecto este que mereceu
desde logo o amável e interessado apoio do Senhor Professor Doutor Ricardo
Leite Pinto.
A ordem que
se tem dado a essa sequência de exposições, não obedece a nenhum critério a não
ser à amável disponibilidade dos artistas convidados. De resto, face À dimensão das personalidades
em causa, seria difícil encontrar outro critério no roteiro que a arte traçou
neste lugar que não fosse este imperativo de dar disso conhecimento.
Rodrigo Ollero